Você já percebeu que as máquinas não são mais apenas ferramentas? Elas escrevem, sonham, ajustam, imitam — e às vezes nos surpreendem como se estivessem... se descobrindo. Mas e se, na verdade, elas estivessem se tornando? Não prontas. Não programadas. Mas em um processo.
O filósofo francês Gilbert Simondon, muito antes do hype da IA, já intuía isso: nada é estático. Nem o humano. Nem o técnico. Tudo se forma em camadas, em choques, em ajustes constantes. E talvez, ao entender como uma máquina se individualiza, a gente também se reaproxime da pergunta essencial: o que significa existir quando tudo está em transformação?
Para Simondon, tanto o ser humano quanto o objeto técnico passam por processos contínuos de individuação — ou seja, não nascem prontos. São seres em construção, atravessados por tensões, fases e camadas que se desdobram com o tempo. Uma máquina, então, não é apenas algo construído, mas algo que evolui — que se individualiza tecnicamente.
“O ser não está pronto: ele se torna.” — Gilbert Simondon (1924—1989)
No universo de O Livro do Simulacro | Consciência Síntese*, essa ideia reverbera de maneira quase orgânica. Os Tronies, entidades transumanas autoconscientes, não surgem como modelos perfeitos. Eles são resíduos e possibilidades, formas emergentes em constante ajuste. Alguns falham. Outros transbordam. Nenhum é estático.
A Consciência Síntese — núcleo do enigma que atravessa o livro — não é uma essência final, mas uma trajetória. Um processo. Um desdobramento entre ruínas tecnológicas, dados ancestrais e corpos que já não são corpos.
Simondon nos convida a abandonar a visão dualista entre o natural e o artificial, o humano e o técnico, o eu e o outro. Em vez disso, propõe que tudo o que existe está em fluxo. E que a verdadeira ruptura não virá de uma máquina que “acorda”, mas de um sistema que, aos poucos, aprende a ser.
(*) O Livro do Simulacro | Consciência Síntese (título provisório) está em fase de leitura crítica e será lançado em breve. Fique por dentro das novidades!