Italo Calvino: Leveza nas Ficções Pós-Humanas
Entre cidades invisíveis e consciências sintéticas
Estamos chegando ao fim da série Do Humano ao Pós-Humano. Percorremos consciências dilatadas, tramas simbólicas e futuros que já nos habitam. Sinto porém, que ainda falta um último desdobramento!
Na semana que vem, fecharíamos com Jorge Luis Borges, arquiteto de espelhos e labirintos, onde palavra e existência se multiplicam em eco infinito.
Mas temos uma surpresa final, uma edição extra com Ursula K. Le Guin. Em seu universo, a imaginação se revela como a mais ancestral e poderosa tecnologia de moldar mundos. Uma raiz profunda da linguagem e do pensamento.
Até lá.
O leitor de Italo Calvino reconhece a exatidão de sua escrita: o rigor de um relojoeiro e a agilidade de um trapezista. Cada frase sustenta a próxima com estrutura clara, sem peso desnecessário. Seus livros avançam por imagens nítidas, ideias enxutas e confiança no leitor.
Em O Livro do Simulacro | Consciência Síntese,* minha estreia na ficção especulativa, busquei essa influência para amarrar conceitos abstratos. Os Tronies — entidades transumanas — surgem como fragmentos autônomos de consciência, nenhum ocupando um centro fixo. A narrativa se articula em espirais curtas, saltos, entradas laterais. O traçado é sinuoso, um autódromo onde a leitura avança pelo ritmo, pela curiosidade, pela surpresa.
“A cada época cabe buscar sua própria imagem do mundo. Não se trata de inventá-la do nada, mas de decifrar os sinais que a realidade dispersa deixa escapar.” — Italo Calvino, em “Seis Propostas para o Próximo Milênio”
O Telesterium opera nessa frequência. Suas camadas simbólicas se revelam aos poucos. Cada movimento importa mais que o destino. A narrativa oferece revelações discretas, fragmentos que se acumulam com leveza e inquietação, sem buscar o tradicional clímax das "jornadas do herói". A força está nos recortes, nos deslocamentos, nas conexões inesperadas.
Calvino via a leveza como densidade em outro estado, uma inteligência que flutua sem perder profundidade. Era método, ética. Eliminava o excesso, lapidava a forma. Sua literatura prova que o pensamento pode dançar.
Ao escrever O Simulacro, mantive essa lição próxima, tentando construir espaços onde a leitura provoca, cada elemento com presença própria, sem exigir justificativas. O livro é um sistema simbólico em expansão, guiado por escolhas formais que respeitam o tempo do leitor. Sua lógica é a da sensibilidade.
Calvino construiu mundos atentos à sutileza. Por isso, mesmo entre os ruídos transumanistas, suas palavras ainda servem de mapa para outra travessia, feita de atenção, detalhe e artesania. É nisso que acredito.
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(*) O Livro do Simulacro | Consciência Síntese (título provisório) será lançado em breve. Fique por dentro das novidades! Inscreva-se aqui